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Coronel Camilo deixa
o Comando da Corporação

Coronel Camilo
Coronel Álvaro Camilo, 50, está na PM há 33 anos e, desde abril de 2009,
ocupada era comandante-geral


































Deve assumir o Comando da Corporação interinamente, o O Coronel PM Pedro Batista Lamoso, atual subcomandante-geral.

O coronel Álvaro Batista Camilo, 50, terminou no início da noite de segunda-feira (2) de recolher os objetos da sala dele no Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar, no Bom Retiro, centro de São Paulo. Um dia após a Folha revelar que o governo estadual anteciparia a substituição dele, o PM procurou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e entregou o cargo.

"Na semana passada, conversei com o secretário [Antônio Ferreira Pinto] e ele achou que deveria antecipar [a mudança]", afirmou Camilo, depois de se reunir com os comandantes de batalhões pela última vez. A notícia causou surpresa entre policiais.

Originalmente, o coronel poderia permanecer no cargo até o mês que vem. Mas diz ter mudado de ideia ao notar a existência de indicativos que era "hora de partir". "Não estou mais produzindo o que deveria."

Em entrevista à sãopaulo, o coronel não descartou a possibilidade de ingressar na carreira política futuramente e afirmou que a cidade não conseguirá se livrar do crack.

Por que entregou o cargo?
Chegou o meu tempo. Há uma série de indicativos que chegou o momento. Cada um tem o seu tempo e sente quando é a hora de partir.

Quais foram os indicativos?
Quando vi que fiz o que tinha de ser feito, estou satisfeito e não conseguiria mais produzir o que produzi. É hora de ir embora. A saída programada tem o lado bom que você sabe que vai sair, mas tem o lado ruim porque outros sabem.

Estava incomodado com a movimentação para definir o novo comandante?
Não, isso é natural. Eu estava torcendo para que tivessem muitos candidatos. Isso é importante para a instituição. E não saí brigado. Estou muito bem com o governo, com os meus policiais, com a sociedade. Simplesmente identificamos que era o momento de sair.

A informação publicada pela Folha no domingo de que o governo
anteciparia a troca de comando incomodou o senhor?

Não, porque essa decisão já havia sido tomada. Comuniquei o secretário [Antônio Ferreira Pinto, da Segurança Pública] na semana passada e o governador hoje à tarde. Saio com o sentimento do dever cumprido.

Mas inicialmente pretendia sair só em maio.
Uma boa parte dos comandantes fica até o último dia. Mas trabalhei no Estado-Maior e vi isso outras vezes. Quando estão chegando os momentos finais, o café vai ficando frio. Trabalhei muito pela polícia, prejudiquei a minha família e agora preciso dar um pouco de atenção a ela.

A morte de dois motoboys por policiais em 2010
foi o seu momento mais delicado no cargo?

Foi um dos mais delicados, principalmente o do primeiro motoboy [Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, 30], que aconteceu no quartel. Foi uma situação difícil e eu precisava mostrar que aqueles policiais não representam os policiais de São Paulo. Soube da informação às 14h30 e às 17h30 eu dei uma entrevista com os nove presos.

Teme que o fim da sua gestão fique marcado por conta
da operação Pinheirinho, em São José dos Campos?

Não. A operação foi dentro da legalidade. Na USP e na Nova Luz também. Não se atrela a minha saída a nenhum fato específico. Mesmo porque se isso acontecesse isso seria lá no caso do primeiro motoboy e não hoje. No Pinheirinho, a polícia recebeu uma determinação e cumpriu dentro da legalidade, respeitando as pessoas. O que se fala do desaparecimento e morte de pessoas é tudo mentira, calúnia. Isso não aconteceu.

E a desocupação da USP, no fim do ano passado?
A da USP foi extremamente dentro da legalidade. Nem gás lacrimogêneo se usou lá. A minha determinação é que, se precisasse, os estudantes deveriam ser carregados no colo.

E a informação de que a PM fez a operação na cracolândia,
em janeiro, sem o aval do governo?

Não, não. Discutimos a operação por mais de seis meses. Ela estava prevista para ocorrer no início do ano. A ação foi pedida pelo governo porque não se conseguia mais acessar ali os que estão consumindo [droga] e precisam de tratamento. Ninguém em sã consciência diz que aquilo poderia continuar daquele jeito. Virou um território livre.

Mas hoje ainda se vê o consumo de drogas ali.
Ainda se vê e vai continuar vendo por algum tempo. Em janeiro, falei que não era fácil. Se fosse, não estaria há trinta anos lá. Grupos consumindo [crack] vai haver ali, mas criamos uma estrutura de enfrentamento. Vai ser difícil? Vai. Vamos acabar com o crack na cidade de São Paulo? Não, não vamos. Nenhuma cidade consegue. Mas podemos minimizar isso.

Houve falha da polícia na briga entre torcedores na zona norte?
Por mais que se acompanhe nas redes sociais, ali não era previsto e foi muito rápido. As duas viaturas não estavam fazendo escolta. E eles [torcedores] foram para se enfrentar. Essa questão da violência entre as torcidas não é um problema só da polícia. A polícia age na consequência. Tem de começar um trabalho antes. Precisa estudar isso a fundo. A legislação precisa ser trabalhada para tirar o sentimento de impunidade. Eles marcam para se confrontar.

O senhor tem filiação partidária?
Não estou pensando nisso. Até hoje pensava na Polícia Militar. A partir da minha saída, posso pensar diferente. Vou descansar um pouco e pensar, mas não vou ficar parado com certeza.

E se surgir um convite para ser subprefeito?
Não recebi convites e não me permiti receber. Não descarto nenhuma possibilidade daqui para frente, mas até hoje nunca pensei nisso.

Fonte: Folha de São Paulo
ELVIS PEREIRA - DE SÃO PAULO

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